segunda-feira, 10 de agosto de 2015

The Oranges

“A Filha do Meu Melhor Amigo” é um filme com atores de televisão (Gossip Girl, House, The Big C, etc), ou seja, seria uma obra sem grandes pretensões. Vi o filme, claro, na TV também.
É tratado o velho tema de Lolita (vulgarmente falando, seria a história de um romance entre um velho e uma garota bem mais jovem).
Não existe originalidade. No máximo, é apresentado um outro olhar para a história. Tudo acontece, basicamente, quando, entre dois vizinhos e melhores amigos, um pai resolve namorar a filha do outro.
Sou divorciado (sem filhos) e seria bastante hipocrisia (da minha parte) criticar esse tipo de relação – acredito, de fato, que a idade não seria o principal critério para definir uma relação amorosa.
O que não dá para aceitar, no filme, é o viés conservador da história. Parece que a tal relação seria uma exceção no ambiente “harmonioso” da classe média norte-americana.
Em outras palavras, com o fim do namoro, os dois pais voltam a ser melhores amigos e a vida segue de uma maneira adequada para cada personagem.
A questão é que na vida real não é assim que funciona.
Primeiro, deixando a hipocrisia de lado, não é uma exceção. Cada vez mais divorciados ou casados (homens e mulheres) se envolvem com gente do sexo aposto bem mais jovem. É verdade que, muitas vezes, não assumem tal relação diante dos olhos da maioria.
Em segundo lugar, a pretensa harmonia do final do filme raramente ocorre no mundo real. Aliás, como todo fim de namoro, inicialmente, o que fica é o mal estar de ter perdido algo. Isso pode virar rancor, ódio, vingança, em suma, pode acabar em tragédia. Ou não. A amizade e o respeito entre as duas partes podem prevalecer, mas isso só acontece depois de um certo tempo após o fim do relacionamento (no “começo do fim”, dificilmente o bom senso dos dois lados – ao mesmo tempo – predomina).
Não dá para abandonar a ideia de que seria um filme supostamente leve que trataria de uma problemática bem complexa. Mesmo assim e mesmo com “atores de televisão”, o resultado final poderia ter sido bem melhor.

O Massacre da Serra Elétrica 3D

Há, nos Estados Unidos, um grande interesse pela figura do “psico killer”. 
Existem pessoas que ficaram famosas por causa de sua crueldade (como Charles Manson). Entretanto, quando esse tema aparece, o nome mais importante é o de Ed Gein, cuja história teria inspirado vários filmes, como “Psicose”, “O Silêncio dos Inocentes” e “O Massacre da Serra Elétrica”.
Neste último caso, houve várias produções desde 1974. Apesar de algumas diferenças, o centro da história ainda baseava-se na figura de Leatherface – um homem com problemas mentais que usava uma serra elétrica para atacar as suas vítimas e torturá-las. Depois utilizava a pele de uma de suas vítimas (ou mais) para construir (ou reconstruir) a sua máscara.
Leatherface normalmente é mostrado como um vilão impiedoso ou (como na versão de 2013) como um sujeito com problemas mentais – que teoricamente não poderia ser responsabilizado por seus atos.
Neste filme, “O Massacre da Serra Elétrica 3D”, existe um “outro olhar” sobre a história de Leatherface e a sua família. Eles “quase” aparecem como vítimas da sociedade, tanto que, no final, a “mocinha” do filme e o seu primo (que ocuparia o lugar de Leatherface) ficam livres e ela resolve continuar na cidade para cuidar do seu parente “desajustado”.
O filme em si não é bom (“O Massacre da Serra Elétrica 3D”), afinal, repete algumas cenas “clássicas” de outras versões e supostamente faz homenagens a outros filmes que trataram do mesmo tema (Ed Gein). A definição dos atores, a montagem do filme e a (des) construção da história pareceram (mais) estratégias oportunistas que, no final, não deram certo.

Mulheres ao Ataque


Duas comédias românticas estreladas por Cameron Diaz chamam a atenção.
Em “Tudo Para Ficar Com Ele” (The Sweetest Thing) de 2002, garotas jovens e solteiras ficam bastante nas baladas até perceberem que o objetivo mesmo seria encontrar a alma gêmea e ser feliz para sempre.
Em “Mulheres ao Ataque” (The Other Woman) de 2014, uma mulher casada descobre que o marido é infiel e vai atrás da amante. Tornam-se amigas. 
Descobrem, depois, outra amante e as três resolvem planejar uma vingança definitiva na medida em que elas foram enganadas pelo mesmo homem.
Diferente do primeiro filme, (em “Mulheres ao Ataque”) não são três amigas da mesma idade que só querem saber de baladas. Aqui a diferença já aparece no visual: uma com cara de esposa mesmo (aparentando ser mais velha), outra com uns 35 anos, bonita e independente (resolvida profissionalmente) e, por última, a mais nova, com 22 anos, não muito inteligente e que conta com a beleza jovem para concorrer com as outras mulheres.
As comédias românticas não são feitas para serem levadas a sério. São leves e tratam de temas cotidianos de uma maneira divertida (ou tentam... pelo menos...). Nos dois filmes citados, tentam mostrar como as mulheres lidariam com os problemas amorosos. Na prática, porém, acabam reforçando velhos mitos de uma sociedade machista.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

“L'Homme qui rit”

Quando vi, pela primeira vez, Heath Ledger como “The Joker” no filme “Batman – O Cavaleiro das Trevas” (2008), confesso que me surpreendeu as marcas no seu rosto (eu imaginava, até então, que não seria possível superar a atuação de Jack Nicholson).
Ver Marc-André Grondin como Gwynplaine em “L'Homme qui rit” (2012) significa lembrar, de imediato, do “sorriso” marcado no rosto de Heath Ledger em Batman.
Esse fato, porém, não tira a beleza e a qualidade de “L'Homme qui rit”, que conta ainda com Gérard Depardieu, Emmanuelle Seigner e Christa Théret. O diretor é Jean-Pierre Améris.
A história é um pouco triste, mas é bem contada. Em suma, trata-se de um belo trabalho.

domingo, 31 de maio de 2015

“Under The Skin”

O termo “selfie” veio com o avanço tecnológico. Tal estratégia, porém, nem sempre funcionou. Houve o excesso (o mau gosto, a ingenuidade, a má fé, entre outras coisas). Foram tantos exemplos.
Um foi o caso da Scarlett Johansson que, em 2011, tirou fotos de si mesma com o celular. Estava nua. Os hackers conseguiram as fotos e colocaram na internet.
Johansson procurou o FBI para reclamar sobre “a violação de privacidade”. A atriz, até então, não aparecia nua nos filmes.
Posteriormente, em 2013, Scarlett Johansson fez um filme (“Under The Skin”) em que aparecia completamente nua.
Johansson, na época, justificou a sua iniciativa:
“A nudez estava no roteiro e espero que o público compreenda, você sabe, que não foi uma coisa gratuita.
(...) Foi quase como algo biológico de uma maneira estranha, eu acho, e havia muita intenção por trás disto.”*

O diretor Jonathan Glazer também tratou do assunto:
“Ela estava associada ao ‘sex appeal’ pela maneira que aparecia. (...) Nós utilizamos isso de uma maneira mais interessante no filme – ela soube dar um uso melhor para a sua imagem de sexy, eu acho. Neste filme, eu acho que ela realmente 'deserotiza' sua imagem.”**
O filme (em si) ficou ruim. Pretensioso (como se fosse vanguarda na década de 1960). A história não foi bem contada - um alienígena que assumiria o corpo de uma bela mulher (Scarlett Johansson) para seduzir homens solitários e compreender a vida no planeta.
Entretanto, o mais importante não seria o filme em si. Scarlett Johansson usou um “filme de vanguarda” para mostrar o que os hackers já tinham conseguido (sua nudez). O diretor Jonathan Glazer sabia que a Scarlett Johansson nua (oficialmente num filme) bastaria para chamar a atenção para o seu objeto e isso daria a liberdade para ele contar a história como desejasse.
Jonathan Glazer fracassou. Já Scarlett Johansson tentou “consertar” um “selfie” comprometedor que foi divulgado na internet. Também não deu certo.
Em resumo, trata-se de uma bobagem que significa só perda de tempo.

(*) Lizzie Smith. There is a lot of intention behind it': Scarlett Johansson defends her decision to go fully nude in new film Under The Skin. Daily Mail, 17 March 2014.
http://www.dailymail.co.uk/…/Scarlett-Johansson-defends-cho…
(**) Charlie Jane Anders. Under The Skin Is About "De-Eroticizing" Scarlett Johansson. io9, 01 April 2014. http://io9.com/under-the-skin-is-about-de-eroticizing-scarl…
 ohan-1556420016

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Salò ou os 120 dias de Sodoma

O ser humano não precisa conhecer, nem provar nem sentir tudo o que existe.
Cada um faz as suas escolhas e lida com as consequências de acordo com as possibilidades que existem em determinados momentos.
Neste sentido, o que pode parecer bastante desagradável para um, por outro lado, pode ser muito saboroso para outro. Penso, por exemplo, numa bebida como o Campari.
A diversidade é saudável.
O respeito ao espaço do outro, claro, é fundamental.
Dito isso, tratarei aqui do filme que acabei de assistir:
Salò, or The 120 Days of Sodom (1975).
Não tinha visto o filme até hoje e esse foi o último escrito e dirigido por Pier Paolo Pasolini. [Um amigo emprestou o DVD.]
Não é qualquer um que suportaria ver um filme assim. E mais: dependendo o perfil da pessoa, ela poderia obter as mensagens do filme sem ter que necessariamente que assisti-lo.
Perdoem-me os puristas, mas essa é a minha opinião (e por isso mesmo fiz a pequena introdução antes de escrever sobre o filme).
Não é possível resumir a importância da obra de Pasolini a partir de Salò, or The 120 Days of Sodom. Nem dá para descartar que o filme retrata também o que Pasolini pensava.
A base do filme é o livro de Marquês de Sade. Existe influência ainda de Dante e Nietzsche, entre outros.
A história ocorre entre os anos de 1944 e 1945 na Itália – período que representa o fim do sonho totalitarista de Hitler e de Mussolini.
Basicamente, dezoito adolescentes são sequestrados e
“submetidos a quatro meses de extrema violência, sadismo, tortura sexual (e mental).
O filme é conhecido por explorar os temas da corrupção política, do abuso de poder, do sadismo, da perversão, da sexualidade e do fascismo.”*
É a visão muito particular de uma artista importante sobre temas tão polêmicos. Deve ser respeitada.
Entretanto, acredito que seria possível discutir tais problemáticas sem ser tão explícito.
Talvez esse seja um problema de alguns filmes italianos e brasileiros: não basta insinuar que em tal momento (da história) o casal do filme resolve fazer sexo, seria necessário mostrar a cena de sexo. Por quê? A ideia não seria contar uma história, defender uma proposta ou qualquer coisa assim. Se a mensagem foi compreendida, OK, não precisaria ser explícito (exceto se a intenção fosse outra e a história seria só um pretexto para mostrar a tal cena de sexo).
Alguns artistas acreditam que precisam ser explícitos, chocantes e até desagradáveis para obter a atenção do público. Alguns subestimam a atenção da maioria e acreditam que se não for assim, as mensagens não seriam entendidas corretamente.
Não concordo com essas premissas.
Quanto ao filme de Pier Paolo Pasolini, vale como uma obra feita em plena Guerra Fria e na Itália (1975) a partir da representação de um período problemático da história da humanidade (o contexto da Segunda Guerra Mundial) e com leituras bem específicas de autores polêmicos como Sade e Nietzsche.
(*) No original: “The libertines kidnap eighteen teenage boys and girls and subject them to four months of extreme violence, sadism, and sexual and mental torture. The film is noted for exploring the themes of political corruption, abuse of power, sadism, perversion, sexuality and fascism.”
Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Sal%C3%B2,_or_the_120_Days_of_Sodom

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

9 Semanas & Meia de Amor

Na época em que foi lançado nos cinemas, muitos não entenderam o sucesso, sobretudo entre as mulheres, do filme "9 Semanas & Meia de Amor". Mickey Rourke era uma galã em ascensão, o modelo de Hollywood no período. No entanto, isso não era suficiente para explicar o sucesso de um filme supostamente erótico. Aliás, cenas sensuais nunca atraíram a maioria das mulheres - tanto é verdade que o público de filmes pornográficos é basicamente masculino.
Assim, o que existiria de especial em "9 Semanas & Meia de Amor"? Não existia um final feliz como em uma "Linda Mulher" ("Pretty Woman"), mas o filme tratava de símbolos do ato sexual. Não era explícito. Não Precisava. O que importava era a representação das fantasias. Uma comum seria encontrar uma pessoa estranha, ao acaso, e viver uma intensa paixão. Essa fantasia estaria associada ao medo do desconhecido, na medida em que o objeto da paixão poderia ser qualquer coisa, inclusive um assassino ou um psicopata. 
Outra fantasia seria o "príncipe" ser bonito, elegante - sem exageros, o que explicaria a barba mal feita -, rico e excêntrico. O personagem de Rourke era uma síntese dessas características. Havia os jogos eróticos, como vendar os olhos diante da geladeira aberta e aceitar o que era colocado na boca: comida e sexo, dois desejos num único ato!
Vestir-se de homem e aparecer em público, com o apoio do namorado. Viver cenas homossexuais "masculinas" num restaurante, chocando os outros clientes... Fugir por becos, correr perigo, fazer sexo na chuva... Precisaria mais?
Ser presenteada com roupas caras numa loja, quando o seu amante paga tudo em dinheiro sem conversar sobre o preço da mercadoria. Menáge à trois... O simbolismo do relógio associado à obsessão de ser lembrado sempre.
Havia ainda a atenção e o carinho do namorado em cuidar dela quando estava doente. Tudo parecia perfeito no ponto de vistas das fantasias, mas, no final, a personagem iria embora e abandonaria o romance após um curto período de tempo (daí o nome do filme). Por quê? 
Aparentemente, paixão e fantasia não existem para durar. São chamas intensas e talvez por isso desapareçam rapidamente. Seria como se a vida cotidiana parasse o seu ritmo e existisse um "flash" de puro prazer, quando só haveria tempo para o casal viver a sua paixão! Quem já passou por algo assim, sabe que seria como uma doença, a obsessão de pensar e querer ficar com a pessoa amada vinte e quatro horas, o tempo todo. O resto - família, trabalho, estudo - perderia sentido. 
Mas... como viver assim durante toda a vida? Não é possível. Elizabeth - a personagem  do filme - sabia disto e foi embora antes da decadência da paixão. Seguiu, a sua maneira, a velha premissa do poeta Vinícius de Moraes: "que seja eterno enquanto dure".