O ser humano não precisa conhecer, nem provar nem sentir tudo o que existe. 
 Cada um faz as suas escolhas e lida com as consequências de acordo com as possibilidades que existem em determinados momentos.
 Neste sentido, o que pode parecer bastante desagradável para um, por 
outro lado, pode ser muito saboroso para outro. Penso, por exemplo, numa
 bebida como o Campari.
 A diversidade é saudável. 
 O respeito ao espaço do outro, claro, é fundamental.
 Dito isso, tratarei aqui do filme que acabei de assistir:
 Salò, or The 120 Days of Sodom (1975).
 Não tinha visto o filme até hoje e esse foi o último escrito e dirigido por Pier Paolo Pasolini. [Um amigo emprestou o DVD.]
 Não é qualquer um que suportaria ver um filme assim. E mais: dependendo
 o perfil da pessoa, ela poderia obter as mensagens do filme sem ter que
 necessariamente que assisti-lo. 
 Perdoem-me os puristas, mas essa é a minha opinião (e por isso mesmo fiz a pequena introdução antes de escrever sobre o filme).
 Não é possível resumir a importância da obra de Pasolini a partir de 
Salò, or The 120 Days of Sodom. Nem dá para descartar que o filme 
retrata também o que Pasolini pensava.
 A base do filme é o livro de Marquês de Sade. Existe influência ainda de Dante e Nietzsche, entre outros.
 A história ocorre entre os anos de 1944 e 1945 na Itália – período que 
representa o fim do sonho totalitarista de Hitler e de Mussolini. 
 Basicamente, dezoito adolescentes são sequestrados e 
 “submetidos a quatro meses de extrema violência, sadismo, tortura sexual (e mental). 
 O filme é conhecido por explorar os temas da corrupção política, do 
abuso de poder, do sadismo, da perversão, da sexualidade e do 
fascismo.”*
 É a visão muito particular de uma artista importante sobre temas tão polêmicos. Deve ser respeitada. 
 Entretanto, acredito que seria possível discutir tais problemáticas sem ser tão explícito.
 Talvez esse seja um problema de alguns filmes italianos e brasileiros: 
não basta insinuar que em tal momento (da história) o casal do filme 
resolve fazer sexo, seria necessário mostrar a cena de sexo. Por quê? A 
ideia não seria contar uma história, defender uma proposta ou qualquer 
coisa assim. Se a mensagem foi compreendida, OK, não precisaria ser 
explícito (exceto se a intenção fosse outra e a história seria só um 
pretexto para mostrar a tal cena de sexo).
 Alguns artistas 
acreditam que precisam ser explícitos, chocantes e até desagradáveis 
para obter a atenção do público. Alguns subestimam a atenção da maioria e
 acreditam que se não for assim, as mensagens não seriam entendidas 
corretamente.
 Não concordo com essas premissas.
 Quanto ao 
filme de Pier Paolo Pasolini, vale como uma obra feita em plena Guerra 
Fria e na Itália (1975) a partir da representação de um período 
problemático da história da humanidade (o contexto da Segunda Guerra 
Mundial) e com leituras bem específicas de autores polêmicos como Sade e
 Nietzsche.
 (*) No original: “The libertines kidnap eighteen 
teenage boys and girls and subject them to four months of extreme 
violence, sadism, and sexual and mental torture. The film is noted for 
exploring the themes of political corruption, abuse of power, sadism, 
perversion, sexuality and fascism.”
 Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Sal%C3%B2,_or_the_120_Days_of_Sodom
