segunda-feira, 30 de maio de 2011

O SILÊNCIO DOS INOCENTES

A minha intenção não é analisar o filme "The Silence of The Lambs". O que acho interessante é que, na cerimônia do Oscar, na época, houve protestos dos homossexuais contra o filme, por causa de um personagem que matava e tirava as peles das garotas. No "making of", o ator, que fez o personagem, disse que não o pensou como um homossexual. No roteiro, aparece na fala do Dr. Lecter:


"ele não é travesti (transexual, homossexual). Ele tenta ser. Aliás, ele tenta ser várias coisas."

O interessante é perceber a leitura das pessoas sobre o filme, inclusive dos homossexuais que se sentiram ofendidos. Isso demonstra que, na sociedade, existe uma ênfase no que diz respeito à sexualidade do indivíduo. Ele "tem" que ser alguma coisa - hetero ou homossexual - e deve se encaixar num rótulo "simples". É isso e pronto.


Entretanto, o ser humano é mais complexo. Ele não é o que parece ser. Ele não é o que tenta ser. Ele não corresponde aos vários rótulos que os outros criam. Ele é um ser em construção. Isso não quer dizer "um ser em evolução". Significa apenas que ele está mudando sempre e nem ele sabe o que irá se tornar.


Aliás, a sua natureza dialética o impede de ser algo pronto. Ele nunca será resolvido. Ele sonha com a estabilidade e com a segurança, deseja a ordem na sua vida, mas tudo não passa de fantasia. Ele não tem e não terá paz.


O que o move é a contradição. Os problemas dão vida ao seu ser. Ele existe no conflito, na rachadura. Ele é "distorcido". Plásticas, silicones, terapias e Prozacs não o consertam.


Assim, querer defini-lo como um simples rótulo, como se ele fosse um produto de supermercado, é pouco, muito pouco. Fazer isso é perder o que é o outro. É correr o risco de ser enganado. Como diria Dr. Lecter no filme:


"his pathology is more savage."


Ou seja, trata-se de correr o risco de imaginar que existe "só" inocência num ser que predomina a selvageria.

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